RIO - A Agência Reguladora de Transportes (Agetransp) abriu nesta segunda-feira uma investigação sobre as causas do acidente com o catamarã social Gávea 1, da concessionária Barcas S/A. A embarcação se chocou contra um píer desativado, ao lado da estação Praça Quinze, levando 65 pessoas a serem hospitalizadas, segundo o Corpo de Bombeiros e a Secretaria municipal de Saúde. Não se sabe o número de vítimas que não procurou a rede pública. A Capitania dos Portos também está investigando o acidente. O deputado Gilberto Palmares (PT), que presidiu a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das Barcas, em 2009, disse que vai pedir abertura de nova CPI.
Passageiros relataram que, às 12h15m, um membro da tripulação teria gritado: "Arreia o ferro (sic)". Na linguagem náutica, ferro significa âncora. Segundos depois, a embarcação, sem qualquer desaceleração, bateu contra o cais. Passageiros que estavam em pé caíram uns sobre os outros. Houve ainda um segundo choque. O comandante, então, distanciou a barca do cais, e os passageiros foram resgatados, cerca de uma hora após o acidente, por um catamarã de transbordo.
Havia 907 pessoas na embarcação, que tem capacidade para transportar 1.300. Segundo a Barcas S/A., houve um aumento de 20% na demanda desde o início das obras do Porto Maravilha, que complicaram o trânsito na descida da Ponte Rio-Niterói. Entre janeiro e junho deste ano, a média transportada foi de 90 mil pessoas/dia no trecho.
— Não é a primeira nem a segunda que uma embarcação se choca e não consegue atracar. Felizmente, não houve vítimas fatais, mas poderia ter havido — disse Palmares.
Para o deputado, o relatório da CPI já havia apontado para o número insuficiente de barcas:
— A falta de embarcações sobrecarrega as que estão sendo usadas e diminui o tempo para manutenção. Esse acidente mostra que o trabalho da CPI não foi levado a sério, principalmente no quesito segurança.
Barca teria partido já com problemas
O catamarã social partiu ao meio-dia da estação Arariboia, em Niterói, com destino à Praça Quinze. Os passageiros Gustavo Azevedo e Gilson Martins Moreira disseram ter ouvido o comandante da embarcação comentar com a tripulação que a barca apresentava problemas, quando ainda estava parada em Niterói.
— Ele disse que teria que fazer uma manobra arriscada e que era preciso que tudo estivesse bem amarrado. Foi irresponsabilidade partir sabendo que havia algo errado — opinou Moreira.
Diversos usuários se queixaram ainda da falta de preparo da tripulação para lidar com o problema e da demora no socorro. Passageiros médicos ajudaram nos primeiros atendimentos, apesar da falta de equipamentos, como medidores de pressão. Chorando muito ao deixar a estação, Gleice da Silva contou que os funcionários estavam desorientados, correndo de um lado para o outro:
— Ninguém nos informava o que estava acontecendo. Uma das tripulantes começou a gritar, deixando a todos ainda mais em pânico.
A Barcas S/A chamou de incidente a colisão e sugeriu que, devido à interdição de parte do píer para perícia técnica, os passageiros evitem o meio de transporte nos horários de maior movimento. A companhia vai operar com 80% de sua capacidade nos próximos dias. Momentos após o acidente, o gerente da concessionária, Mário de Góes, negou que tenha havido falha no atendimento às vítimas.
— O comandante tirou a embarcação de perto da estação, fez a parada total, jogando a âncora, e iniciou as providências de socorro aos feridos — explicou Góes.
Regina Galvão, de 60 anos, machucou o joelho no momento da batida. Ela disse que percebeu que algo grave estava para acontecer quando a atendente da lanchonete que funciona dentro da barca gritou:
— Ela disse "segura, que vai bater!" Em seguida, eu só vi as pessoas voando umas sobre as outras.
O engenheiro Robson Abraão Santos, de 57 anos, teve a pálpebra esquerda cortada quando bateu o rosto num dos armários da embarcação. O aposentado Ary Neves, de 76 anos, também se feriu no mesmo local. Ary tremia enquanto segurava um lenço para estancar o sangue do ferimento que teve no supercílio:
— Eu jamais esperaria que a barca fosse perder o controle e bater. Era como se não houvesse comandante nenhum na cabine.
Das 65 vítimas hospitalizadas, 20 foram atendidas no Hospital Miguel Couto, na Gávea; 25, na Unidade de Pronto-Atendimento de Botafogo; 14 no Hospital Souza Aguiar, no Centro, e cinco, no Hospital Salgado Filho, no Méier. Uma mulher grávida chegou a ser encaminhada para o Hospital Maternidade Oswaldo Nazaré, na Praça Quinze, mas foi liberada em seguida. Não há casos graves, mas há pessoas com fraturas.
De acordo com os bombeiros, foram utilizados no socorro às vítimas sete ambulâncias, duas lanchas do Grupamento Marítimo (Gmar) de Botafogo e 14 carros do Quartel Central. Ao todo, 14 militares trabalharam no resgate.
Em setembro do ano passado, um catamarã que fazia o trajeto entre Rio e Niterói precisou fazer uma atracação de emergência e colidiu com outra barca, próximo à Praça Quinze. No mês anterior, um catamarã que seguia do Rio para Niterói já havia se chocado contra pedras do Aterro de Gragoatá, em Niterói, deixando 18 feridos.